https://www.open.online/2024/03/21/bruxelles-summit-nucleare-protesta-greenpeace
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O Conselho Europeu não é a única cimeira que reuniu chefes de Estado e ministros em Bruxelas hoje, quinta-feira, 21 de março.O outro evento do dia é a cimeira sobre energia nuclear, presidida pelo primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, e pelo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Mariano Grossi.A cimeira contou com a presença de cerca de trinta delegações de todo o mundo, incluindo Itália, representadas para a ocasião pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros Antonio Tajani.O acordo final assinado pelos líderes inclui o compromisso de reafirmar o papel da energia nuclear como uma “componente chave” na luta contra as alterações climáticas e, ao mesmo tempo, desbloquear o financiamento público e privado para o átomo.«A energia nuclear produz hoje um quarto da energia limpa à escala global, igual a 25%, da qual metade provém da União Europeia.Não é uma utopia, é realidade.Mas precisamos de mais”, declarou o diretor da AIEA no seu discurso em Bruxelas.O grande ausente da cimeira de hoje é a Alemanha, que no ano passado desligou os seus últimos três reactores nucleares e agora pretende atingir 100% de energia proveniente de fontes renováveis até 2035.
A estratégia da UE em quatro etapas
As políticas energéticas adoptadas pela União Europeia durante a última legislatura centraram-se sobretudo nas energias renováveis, relegando a energia nuclear para um papel secundário.Nos últimos anos, no entanto, o átomo voltou a ser subir ao palco.Em dezembro passado, foi mencionado pela primeira vez explicitamente no documento final da COP28 em Dubai, onde um grupo de 20 países também assinou um pacto para “triplicar as capacidades de energia nuclear em todo o mundo até 2050”.Depois, em dezembro, a União Europeia incluiu a energia atómica entre as tecnologias consideradas “estratégicas” para atingir a meta de zero emissões líquidas até 2050.Uma direção confirmada hoje também por Úrsula von der Leyen.No seu discurso na cimeira de Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia reconheceu que “existem opiniões diferentes sobre a energia atómica”, mas a combinação nuclear-renováveis constitui “a espinha dorsal da produção de eletricidade da UE até 2050”.Von der Leyen delineou, portanto, os quatro pilares da estratégia europeia para o relançamento da energia nuclear.Primeiro:aumentar os investimentos no setor.Segundo:ampliar o compromisso com a transição energética.Terceiro:considerar prolongar a vida útil das centrais nucleares existentes.E, finalmente, continuar a trabalhar para trazer ao mercado pequenos reactores modulares o mais rapidamente possível, sobre os quais a Itália também demonstrou algum interesse.
A pressão de Macron e a Itália na janela
Até à data, cerca de um quarto da energia produzida na União Europeia provém da energia nuclear.Contudo, se olharmos para cada país, apenas 12 dos 27 podem contar com pelo menos uma central eléctrica em funcionamento.A maior parte é da França, que possui 56 dos 100 reactores activos no território da UE.Uma vantagem competitiva à qual hoje Emmanuel Macron ele não tem intenção de desistir, pelo contrário.“Em França produziremos 90 gigawatts de capacidade programada e, além destes, anunciarei mais 14 GW”, revelou o presidente francês, sem indicar prazos ou outros detalhes.O pedido em que a França mais insiste diz respeito ao financiamento de projetos relacionados com o nuclear, tendo Macron hoje, de Bruxelas, apelado a um maior envolvimento do BEI, o Banco Europeu de Investimento.Na cimeira na Bélgica também esteve presente o ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, que reiterou o interesse do governo na energia atómica:«A Itália procura a independência energética para abandonar progressivamente os combustíveis fósseis e concentrar-se num mix energético que inclua energias renováveis, hidrogénio e até nuclear».
Protestos do Greenpeace
Enquanto o relançamento da energia nuclear na Europa e em todo o mundo era discutido dentro da Expo Bruxelas, uma manifestação de protesto do Greenpeace e de outros grupos ambientalistas ocorreu fora do edifício.«Estamos numa emergência climática, por isso o tempo é precioso, mas os governos aqui reunidos hoje pretendem desperdiçá-lo contando contos de fadas sobre a energia nuclear», explicou Lorelei Limousin, ativista sênior pelo Greenpeace UE.Segundo a associação, apostar na energia nuclear significa abraçar um processo “muito lento e muito caro”, incompatível com a urgência da crise climática.Os activistas reiteram, portanto, as suas contrapropostas:«Os governos deveriam antes incentivar as fontes renováveis, a poupança de energia e soluções mais eficazes e úteis para as pessoas, como o isolamento térmico das casas e a mobilidade sustentável».
Foto da capa:EPA/Olivier Hoslet | Da esquerda:o primeiro-ministro belga Alexander De Croo, a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen e o diretor-geral da AIEA Rafael Mariano Grossi (Bruxelas, 21 de março de 2024)