Do “retorno às cavernas” de Al Jaber ao acordo em tempo recorde sobre Perdas e Danos:o que aconteceu até agora na COP28 em Dubai

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https://www.open.online/2023/12/06/cop28-a-che-punto-siamo

A primeira metade da cimeira climática da ONU foi concluída.Mas o caminho para o acordo final continua longo

«Proteger o nosso clima é o maior teste de liderança do mundo.O destino da humanidade está em jogo."Estas foram as palavras do Secretário Geral da ONU António Guterres para inaugurar a Cop28, conferência anual sobre mudanças climáticas que este ano acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.Como esperado, a primeira metade da cimeira foi marcada por muita controvérsia e poucos progressos.Mas o caminho entre agora e 12 de dezembro, último dia da conferência, ainda é longo.Amanhã, dia 7 de dezembro, haverá um dia de descanso nos quartos e corredores do Expo City Dubai.Depois haverá o último sprint, que culminará com as negociações do acordo final nos dias 10, 11 e 12 de dezembro.Aqui está um guia rápido do que aconteceu até agora e o que você pode esperar nos próximos dias.

O acordo (em tempo recorde) sobre Perdas e Danos

Como que para afastar toda a polémica, o primeiro dia da COP28 terminou com um acordo aguardado há décadas:a decisão de tornar operacional o fundo para perdas e danos, concebido para ajudar os países mais pobres - e os menos responsáveis ​​pelo aquecimento global - a lidar com as consequências das alterações climáticas.Itália, anunciou o primeiro-ministro Giorgia Meloni em seu discurso em Dubai, contribuirá com 100 milhões de dólares.O acordo de Perdas e Danos prevê que o fundo será gerido pelo Banco Mundial e que as contribuições dos países doadores são voluntárias e não obrigatórias.Um resultado que muito provavelmente foi possível graças às negociações realizadas nos bastidores ao longo do último ano.

A energia nuclear toma conta da cena

Entre os principais eventos dos primeiros dias da COP28 está também oacordo assinado por 20 países, incluindo a França e os Estados Unidos, para “triplicar as capacidades de energia nuclear no mundo até 2050” em comparação com 2020.O objetivo, explicou o enviado climático da Casa Branca John Kerry, é «reduzir a dependência do carvão e do gás, o principal desafio desta cimeira».A primeira cimeira nuclear mundial também será realizada em março de 2024, organizada em conjunto com a Agência Internacional de Energia Atómica.A primeira edição da cimeira será realizada na Bélgica e já atraiu o interesse da Itália, entre outros.“Não excluo a possibilidade de a Itália participar na cimeira como observadora”, comentou o ministro do Ambiente Gilberto Pichetto.

Al Jaber e o “retorno às cavernas”

O presidente da conferência, bem como o CEO da gigante petrolífera Adnoc, Sultan Al Jaber, foram mais uma vez responsáveis ​​por mergulhar a COP28 novamente na polémica.“Não há base científica que indique que seja necessário abandonar os combustíveis fósseis para manter o aquecimento global dentro de 1,5 graus”, disse o presidente da COP28, falando num evento online no início de novembro, obtido por Guardião.Não há adeus ao petróleo, ao gás e ao carvão, portanto, “a menos que queiramos levar o mundo de volta às cavernas”.Palavras julgadas beirando o negacionismo, o que deu origem a um coro unânime de condenações.O ex-vice-presidente americano Al Gore, sempre na vanguarda das questões climáticas, chegou ao ponto de pedir a demissão de Al Jaber.No final não houve retrocesso, mas o presidente petrolífero organizou apressadamente uma conferência de imprensa para tentar amortecer a polémica:«A ciência está no centro da minha progressão na carreira.Respeito números e dados.Há confusão e más interpretações."

O pacto para as energias renováveis

Entre os sucessos alcançados nos primeiros dias da cimeira do Dubai está também o compromisso assinado por 116 países de triplicar a capacidade mundial de energia renovável até 2030.O que torna o acordo particularmente significativo é o facto de os países signatários também incluírem a China e os Estados Unidos, os dois países que têm o maior impacto nas emissões totais de gases com efeito de estufa.Entre os atores internacionais que mais pressionaram pelo acordo está também a União Europeia, com o Presidente da Comissão Úrsula von der Leyen quem comentou:«São boas notícias.Precisamos de energia que seja acessível e acessível a todos."

O lobby dos fósseis está crescendo cada vez mais

Entre as lembranças mais tristes que a COP28 deixará está o novo recorde de lobistas ligados aos produtores de combustíveis fósseis que compareceram à conferência da ONU.Na COP26 em Glasgow foram 503, na COP27 em Sharm el-Sheikh foram 626, este ano são 2.456.Um número recorde, calculado pela ONG Kick Big Polluters Out, que só alimenta a polémica sobre os laços estreitos entre a presidência da cimeira do Dubai - e portanto o governo dos Emirados Árabes Unidos - e o sector do Oil & Gas.O número de lobistas dos combustíveis fósseis que participaram nas negociações aumentou aproximadamente quatro vezes no espaço de apenas um ano, enquanto crescem os apelos de várias associações para expulsar de uma vez por todas os representantes dos grandes poluidores das negociações.

O longo caminho até ao acordo final

Tendo chegado a meio da cimeira, as posições dos vários países sobre o acordo final da COP28 ainda permanecem muito distantes umas das outras.O terreno mais espinhoso, como previsto, é o da despedida dos combustíveis fósseis.A União Europeia faz parte desse grupo de Estados que pedem a eliminação gradual, ou a eliminação gradual dos combustíveis fósseis do mix energético global.Hoje, o comissário europeu para o clima, Wopke Hoekstra, deixou claro que “a Cop28 do Dubai deve dar luz verde ao abandono dos combustíveis fósseis” e todos os países da UE “querem que isto faça parte do resultado final”.Do outro lado da mesa, porém, permanece um grande grupo de países que não têm qualquer intenção de abdicar dos combustíveis fósseis, a começar pelos próprios Emirados Árabes Unidos, que não só são o sétimo maior produtor de petróleo do mundo, como também planeiam aumentar a produção na próxima década.A última versão do acordo final oferece três opções sobre este ponto:uma eliminação progressiva “ordenada e justa”, “uma aceleração dos esforços para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis” e uma terceira opção que não menciona de todo a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

A chantagem de Putin sobre a Cop29

Como se não bastasse, há outro nó a desatar entre os corredores de Dubai:o local da próxima conferência climática da ONU.Normalmente, o local é escolhido com pelo menos alguns anos de antecedência.E de facto o local para 2025 já está definido:A Cop30 acontecerá em Belém, Brasil.Com base no mecanismo de rotação entre áreas, caberia a um país da Europa de Leste acolher a cimeira de 2024.A Bulgária foi a primeira a candidatar-se, mas a Rússia Vladímir Putin – que, sendo um país da Europa de Leste, goza do direito de veto – opôs-se.A razão oficial apresentada pelo Kremlin é que “nenhum país da UE seria imparcial em relação à Rússia”.Segundo o ministro búlgaro do Meio Ambiente, porém, o veto de Putin nada mais seria do que “uma retaliação pelas posições sobre a guerra na Ucrânia”.Se a situação não for resolvida até ao final da COP28, a ONU ver-se-á confrontada com um cenário sem precedentes.Entre as opções em cima da mesa está a possibilidade de realizar a conferência de 2024 em Bona, na Alemanha, onde está sediada a Agência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC).Neste caso, apenas a sede logística mudaria, enquanto o contestado Sultão Al Jaber presidiria mais uma vez a Cop29.

Foto da capa:EPA/Martin Divisek | Um dos corredores da Expo City Dubai, local que sedia a Cop28 nos Emirados Árabes Unidos (6 de dezembro de 2023)

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